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09 setembro 2009

Simplicidade na arte

Quem disse que precisa de formação e diploma pra fazer arte?
Arte exige diciplina, dedicação, estudo, gosto e muito, mas muito trabalho. Só assim o artista poderá vencer seus desafios, encontrar seus caminhos, estilo e fazer arte na sua totalidade.

Disso, agora citarei uma artista brasileira, mineira, que mora muito longe de tudo, e tem um trabalho magnífico. A vi agora na Belas Artes, pois confesso que não a conhecia. E fiquei admirada.

Como vocês ISABEL MENDES DA CUNHA, ou melhor, a Dona Isabel Nunes, diretamente do Santana do Araçuaí no Município de Ponto dos Volantes, Vale do Jequitinhonha-MG

Dona Isabel (Isabel Mendes da Cunha) (1924- ) é certamente a mais famosa artesã que trabalha com barro no Vale do Jequitinhonha. Exerce o seu ofício, "mexe com o barro", no pequeno vilarejo de Santana do Araçuaí no Município de Ponto dos Volantes.
Filha de louçeira, que possuía um saber ancestral obtido de seus antepassados indígenas, cresceu vendo a mãe trabalhar.
No início sua relação com o barro aconteceu como todas as crianças do interior. Na infância modelava com argila objetos para as suas brincadeiras. Foi aí que surgiu o sonho de fazer bonecas que só se materializou muitos anos após, já na idade adulta.

Já casada e depois viúva, Dona Isabel, no esforço de criar seus filhos, fugindo das dificuldades de ganhar o pão de cada dia no trabalho na roça, passou a produzir potes, travessas, figuras de presépios, que eram vendidas nas feiras da região.
Nesta época suas criações se destacavam em meio às outras graças à sua inventividade e o capricho na modelagem e decoração das peças.


Muitos anos após, quando foi “descoberta” já com 44 anos, em 1978, é que surgiram suas mais famosas criações - as bonecas - que hoje tem fama no Brasil e no exterior.
Como bonequeira criou imagens representando o povo da região em noite de gala, especialmente mulheres, em diversas situações especiais do cotidiano: Noivas vestidas de branco com arranjos e buquês, noivos elegantemente vestidos com terno e gravata, madrinhas, grávidas amamentando, preparativos para festas, procissões etc.

Algumas das peças chegam a medir de 1,5 metros de altura. São minuciosamente enfeitadas, decoradas. As mulheres são apresentadas com olhos, cílios, lábios e unhas pintadas, e penteados impecáveis. Todas portam colares, brincos e outros enfeites. Sonhos de glamour de um povo sertanejo sofrido que vive numa das mais pobres regiões do país, assolada regularmente por secas e enchentes.

O acabamento das peças (pintura) é feito usando barro da região "água de barro" de variadas tonalidades, muitas vezes misturados entre si, para a obtenção de outros tons, uma espécie de engobe. O resultado final é uma superfície lustrosa, acetinada, quase sem imperfeições. Em nenhuma momento se aplicam esmaltes (vidrados).
Os trabalhos produzidos por Dona Isabel, ao contrário do que acontecia no início de sua carreira, são atualmente bastantes valorizadas. Uma boneca de maior tamanho pode chegar a custar milhares de reais, e o atendimento obedece a uma fila de espera.

As peças são modeladas manualmente, com a ajuda de toscas ferramentas, sem o uso do torno de oleiro, com barro de boa qualidade abundante na região, depois de sovado e peneirado. O alisamento da superfície é feito usando sabugo de milho e de outros modos.
As peças são feitas em partes e depois montadas, juntadas. Cabeças, pálpebras, olhos, lábios, boca, nariz, orelha e cabelos.

As queimas, monoqueimas, são realizadas em rústicos fornos a lenha abertos, cuja técnica está plenamente dominada graças ao longo período de prática. Os trabalhos são colocados, na parte inferior, sobre cacos e peças defeituosas. Para evitar manchas há especial cuidado para que as peças não encostem uma nas outras ou na parede do forno. A parte superior do forno é coberta com latas, cacos e peças com defeito visando manter a temperatura estável.

O esquente é feito durante as primeiras horas, lentamente, para que a evaporização da água ocorra sem sobressaltos. Em seguida é o momento de colocar mais lenha para aumentar o fogo e observar, nas horas seguintes, a cor da chama e das peças. Só após o lento esfriamento é possível verificar o resultado da queima.

Dona Isabel criou um estilo próprio de trabalho e repassou o seu conhecimento para todos que a cercam formando uma verdadeira escola de cerâmica. Vários fatores têm influência no resultado final. A escolha do barro, sua preparação e manuseio, a modelagem, o acabamento e pintura, e a queima.

Integram a comunidade de artesãos de Santana do Araçuaí, a maioria mulheres e poucos homens, amigos e parentes (filhas e filho, genro e netas) de Dona Isabel. Maria Madalena (filha), Amadeu casado com Mercina (filho e nora), Glória Maria casada com João Pereira de Andrade (filha e genro).

Muitos estão reunidos na Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaí que promove Oficinas e onde os artesãos comercializam suas peças: bonecas de variados tamanhos, galinhas, moringas, flores, potes, vasos, figuras de presépios, l louça para feijoada e muito mais. O telefone de Dona Isabel e da Associação é o mesmo: 0xx33 3733 3004.

Fotos: Leonardo Alvim
Fonte: Vídeo Da Terra, A Alma. Autores Leonardo e Heloisa Alvim
Pesquisa e texto: Renato Wandeck
Referências Bibliograficas:
- Revista Palavra. Nº 14, junho 2000.
- Casa Claudia-Artesãos do Brasil. Ano 24 nº 464, 2000
- Mestre Isabel e sua Escola-Cerâmica no Vale do Jequitinhonha
Org. Marina de Mello e Souza-Rio de Janeiro:Funarte,CFCP,1995.
Sala do Artista Popular n°59.
Catálogo da exposição realizada na Sala do Artista Popular de 21/11 a 30/12 de 1995
Museu do Folclore Edson Carneiro
- Cerâmica de Santana do Araçuaí
Pesquisa e texto de Maria Helena Torres-Rio de Janeiro: Funarte,CNFCP,2002
Sala do Artista Popular n° 99
Catálogo da exposição realizada na Sala do Artista Popular de 31/01 a 10/03 de 2002
Museu do Folclore Edson Carneiro

Um comentário:

Aisha J. disse...

FANTÁSTICO !!!

BJS