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29 outubro 2009

O sofrimento vem da crença em
acreditar que tudo é pra sempre.
E ao mesmo tempo, o desapego,
nos liberta e mostra que no fundo
nada acaba, nada existe...
tudo é efêmero e passageiro

Mas não quero, não acredito e não aceito
Há sim certas coisas que são verdadeiras
Há sim sentimentos eternos...

E só existia o desejo
O desejo de ser
O desejo do beijo
O desejo da entrega
E apenas restou
o olhar, a intenção
e o desejo

15 outubro 2009

A imagem no ensino da arte e o olhar


Muito já foi discutido sobre esse tema, e ao meu ver, a imagem, a história da arte, a estética, a criação tem tudo haver com o ensino das artes nas escolas.

Antigamente falavam que isso ia acabar com o desenvolvimento expressivo do aluno, mas ao contrário do que se pensava, a forma de atribuir referências, estimular a leitura, apreciação e interpretação e claro, conhecer a história da arte, só vai melhorar na criação artística dos alunos.

Como desenvolver um povo e uma nação, sem o conhecimento da sua própria história e da sua arte?

Ana Mae troxe pra nós a trilogia no ensino da arte, ou melhor a forma triangular de se ensinar:

olhar crítico/leitura crítica:
  1. olhar para nós mesmos
  2. olhar pro mundo
  3. olhar para o outro
O artista olha o que todo mundo vê mas mostra através de uma nova leitura de mundo. Mostra o que ninguém vê

E como trabalhar em sala de aula? Desenvolver os seguintes passos em sala de aula:

  1. Descrição: pedir para eles falarem o que veem na imagem
  2. Analisar: reconhecer as técnicas, os elementos visuais e aspectos formais e estruturais - domínio da sintaxe da linguagem visual.
  3. Interpretação: dar sentido para o que se olha.
  4. Contextualização: buscar as informações sobre a imagem - instigar os alunos a pesquisar.

Tudo isso é uma forma bem resumida, claro que há outros fatores, mas o importante é trabalhar de uma forma geral o ensino da arte e fazer os alunos pesquisarem e terem curiosidade sobre o que está se ensinando. E mostrar o quanto é importante a Arte pra vida deles.

10 outubro 2009

Webquest

Ainda não falarei sobre o que seria uma webquest, mas é uma ferramenta da educação.
Montei a minha sobre a Lotter Reineger, afinal ninguém conhece nada sobre animação, muito menos de uma alemã que fazia tudo com papéis.

O endereço:
www.cine-animacao.yolasite.com

Lotte Reineger

06 outubro 2009

O fim da Arte (como meio de conhecimento)

Matéria publicada em 01/10/2001 - Edição Número 26

Por Almandrade


Não temos a capacidade de destilar em palavras as experiências visuais que fazem o belo repousar naquilo que é apreendido pelo olhar. Uma obra de arte é tudo que ela contém: forma, textura, cor, linhas, conceitos, relações, etc. É aquilo que se vê, e o que se diz não corresponde exatamente ao que se vê. Não representa nada como imagem de outra coisa. E para ler um trabalho de arte é necessário se partir de um modelo (referências, informações...). Existem códigos a priori (aqueles utilizados pelo artista) e códigos a posteriori (aqueles utilizados pelo espectador).

A virtude da arte é afirmar um conhecimento, propondo instrumentos que seduzem a inteligência. A invenção de uma linguagem é o resultado de um exercício paciente de contemplar outras linguagens. Como todo discurso é resultado de outros discursos. Exige-se um método. A arte é o que está além dos limites de tudo o que se considera cultura; não pode se restringir a um exótico experimento ou aparência da superfície de um trabalho, que fica para trás, como uma coisa vazia, no primeiro confronto com o olhar que pensa.

A arte, entendida, como meio de conhecimento, hoje em dia, vem cedendo lugar a uma experiência ligada ao lazer e a diversão, que envolve outros profissionais como responsáveis pela sua legitimação: o curador, o empresário patrocinador e organizador de eventos, marchands, profissionais de publicidade, administradores culturais e captadores de recursos. Com as leis de incentivo a cultura e a presença marcante da iniciativa privada, paradoxalmente, levou a arte a um limite, o fim da obra, do trabalho ligado a um saber. E o artista, nem artesão e nem intelectual, sem dominar qualquer conhecimento, está cada vez mais sujeito ao poder do outro. As grandes mostras são grandes empreendimentos para atender à indústria do entretenimento, (mais empresarial e menos cultural), que movimentam uma quantidade significativa de recursos e envolve um número assustador de atravessadores.

As contradições modernidade / tradição, contemporâneo / moderno, neste início de século, cede lugar a uma outra contradição: artistas que pertencem ao metier e artistas estranhos ao metier, inventados por empresários da cultura, cujos trabalhos se prestam para ilustrar uma tese ou teoria imaginária de um suposto intelectual da arte e garantir o retorno do que foi investido pelo patrocinador e pelo comerciante de arte. Uma mercadoria fácil de investir, sem risco de perda, basta uma boa campanha publicitária. O artista pode ser substituído por um ou por outro, a obra é o menos importante. Aliás, é o que a indústria do marketing tem feito com as mostras dos grandes mestres como: Rodin, Manet, etc., pouco importa as obras desses artistas e sim o nome e o patrocinador. A publicidade leva consumidores/espectadores como quem leva a um shopping center. A quantidade de público garante o sucesso. O público é como o turista apressado, carente de lazer cultural que visita os centros históricos com o mesmo apetite de quem entra numa lanchonete para uma alimentação rápida.

Na “sociedade do espetáculo”, regida pela ética do mercado, o artista sem curador, sem marchand, sem patrocinador, é simplesmente ignorado pelas instituições culturais, raramente é recebido pelo burocrata que dirige a instituição. Seus projetos são deixados de lado. Também pudera, essas instituições, sem recursos próprios, tem suas programações determinadas pelos patrocinadores. Numa sociedade dominada pelo império do marketing, a realidade e a verdade são mensagens veiculadas pela publicidade que disputa um público cada vez maior e menos exigente. A vida é vivida na especulação da mídia, na pressa da informação. E neste meio, a arte é uma diversão que se realiza em torno de um escândalo convencional, deixando de lado a possibilidade do pensamento.

O fantasma do “novo”, que norteou a modernidade foi deslocado para o artista que está começando, pelo menos novo em idade, o artista/atleta, a caça de novos talentos e de experiências de outros campos sociais. Totens religiosos, a casa do louco, a rebeldia do adolescente... Tudo é arte, sem exigir de quem faz o conhecimento necessário. Todo curador quer revelar um jovem talento, como se a arte dispensasse a experiência. Um “novo”, sinônimo de jovem ou de uma outra coisa que desviada para o meio de arte, funciona como uma coisa “nova”. Um novo sempre igual, a arte é que não interessa. Praticamente trinta anos depois do aparecimento da chamada arte contemporânea no Brasil, recalcada nos anos 70 pelas próprias instituições culturais, um outro contemporâneo surgido nos anos 90 passou a fazer parte cotidiano dos salões, bienais, do mercado de arte, das grandes mostras oficiais e de iniciativa privada. Uma contemporaneidade sintomática.

Estamos vivendo um momento em que qualquer experiência cultural: religiosa, sociológica, psicológica, etc. é incorporada ao campo da arte pelo reconhecimento de um outro profissional que detém algum poder sobre a cultura, (tudo que não se sabe direito o que é, é arte contemporânea). Como tudo de “novo” na arte já foi feito, o inconsciente moderno presente na arte contemporânea implora um “novo” e nesta busca insaciável do “novo”, experiências de outros campos culturais são inseridos no meio de arte como uma novidade. Deixando a arte de ser um saber específico para ser um divertimento ou um acessório cultural. Neste contexto, o regional, o exótico produzido fora dos grandes centros entra na história da arte contemporânea. Nos anos 80, foi o retorno da pintura, o reencontro do artista com a emoção e o prazer de pintar. Um prazer e uma emoção solicitados pelo mercado em reação a um suposto hermetismo das linguagens conceituais que marcaram a década de 70. Acabou fazendo da arte contemporânea, um fazer subjetivo, um acessório psicológico ou sociológico. Troca-se de suporte nos anos 90 com o predomínio da tridimensionalidade: escultura, objeto, instalação, performance, etc., mas a arte não retomou a razão.

Na barbárie da informação e da globalização, estamos assistindo ao descrédito das instituições culturais e da dissolução dos critérios de reconhecimento de um trabalho de arte. Tudo é tão apressado que acaba no dia seguinte, os artistas vão sendo substituídos com o passar da moda, ficam os empresários culturais e sua equipe. Uma corrida exacerbada atrás de uma “novidade”, que não há tempo para se construir uma linguagem. O chamado “novo” é a experimentação descartável que não chega a construir uma linguagem elaborada, mesmo assim, é festejado por uma crítica que tem como critério de julgamento interesses pessoais e institucionais. A arte pode ser qualquer coisa, mas não são todos os fenômenos ditos culturais, principalmente os que são gerados à sombra de uma ausência de conhecimento.

Sobre o autor:

Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.

no site: Cosmo